terça-feira, 28 de outubro de 2014

Espelhar e Polir XI




Da dicotomia sempre presente entre o fazer e o que está feito.
Kosuth vai falando disso mesmo. Traz à definição da arte o papel da observação e da acção a partir da observação e não da história do meio. Observamos, e a própria acção de observar, a conjugação daquilo a que a nossa curiosidade nos prende, participa, já, da definição de acção?
Estamos demasiado habituados a olhar o resultado das ideias e a confundi-los com as ideias que lhes deram forma. Demasiado habituados, também, a olhar as ideias como teorias separadas da acção e a "ter de escolher" entre uma e outra.
Talvez isto decorra de uma visão excessivamente materialista que a época moderna nos trouxe. Teoria e prática repetem um pouco a ideia de mente e corpo. O facto de a razão ser capaz de coerência formal (de ser a própria capacidade de a conceber?) fez-nos pensar que era superior, que detinha um qualquer poder absoluto sobre a realidade.
Podemos, agora, ver a História como a sucessão de correcções ao absolutismo idealista das visões do mundo nas suas várias manifestações. Dessa forma, um século é mais que o outro e uma ideia é evoluída em relação à precedente. No entanto (talvez a arte sempre tenha denunciado isto), pode também ser lida como a diferença dos valores de experiência à luz dessa noção absolutista da razão.
Art after Philosophy, a meu ver, põe a nu esta questão. Duchamp abriu uma brecha irreparável na relação entre o fazer arte dentro de uma continuidade formal e o acto radical da arte como religação entre o pensar e o agir, entre a definição e experiência. Desliga a prática da arte do formalismo da sua história e, assim, abre caminho para o que se entende, agora, por arte conceptual.
Este artigo de Kosuth não é novo mas é pertinente na mesma:

http://www.intermediamfa.org/imd501/media/1236865544.pdf


Sem comentários:

Enviar um comentário