Steven Flusty fala aqui
de uma questão interessante na construção das cidades, da imagem das cidades. O
que acontece ao espaço não significante? O espaço que não serve de propaganda
de marcas, pessoas ou cidades (e este é um dos problemas apresentados: o da
imagem do monumento como espaço de propaganda da cidade), é votado ao
esquecimento. O espaço entre significantes ou determinantes; os caminhos entre
origens e destinos, entre marcas, entre tudo o que nos faz sentir
identificados.
É uma questão de identidade. Se olharmos para as pessoas
nesses espaços, repetem a mesma questão: o seu tempo é significante ou
determinante ou é “inútil”. O seu espaço, o espaço do seu corpo, da sua roupa,
da sua acção, ou é significante ou determinante ou é, também ele, inútil.
Creio que não nos damos conta porque estamos treinados para
perceber esses pontos significantes e determinantes e ignorar tudo o resto.
Lembro-me do gozo que dava ler Milan Kundera por ser, de
certo modo, o oposto destas definições. Lembro-me da sensação de estar a ler
alguém a descrever um espaço e a determinar circunstâncias onde a minha
imaginação criaria os personagens. Não me lembro de grandes descrições dos
personagens, mas as circunstâncias eram tão claras que conseguia “ver” os
personagens nelas.
Todos os dias passo nestas escadas. Curiosamente, o facto de
passar sempre fora das horas de maior movimento, oferece-me as escadas quase
sempre vazias. Que pessoas passam aqui? De onde vêm? Que vida terão? Que caminhos
farão até aqui e a partir daqui?
Há uma paragem de camionete logo ali em cima. Guiado por
esta coisa Kunderiana, saio da camionete e vou em busca dos lugares de passagem,
dos lugares aparentemente não significantes ou determinantes.
O que é determinante e significante nestes espaços?
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