quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Ensaios Sobre a Contaminação VI

Maquete para Ensaios Sobre a Contaminação (excerto)


Há uns tempos, pensei chamar a este trabalho Assuburbar. Estava com o Ricardo Ribeiro na estação da Reboleira para receber uns livros do Sr Teste e o nome surgiu. Do facto de estarmos assoberbados com o subúrbio.
Assuburbar é um verbo. Determina o processo de nos tornarmos suburbanos numa altura em que a noção de centro urbano desaparece a pouco e pouco.
O subúrbio vem a ser o sítio a que não prestamos atenção; que não tem nem constitui zonas de interesse ou relevo como marcos no território. Por esta razão, é um espaço ao qual não prestamos atenção.
Quer vivamos, trabalhemos ou apenas passemos por ele, acaba por ocupar uma percentagem cada vez mais significativa do nosso tempo. Designando como subúrbio todas as zonas a que não prestamos atenção, percebe-se que, ao ritmo a que vivemos, deixamos áreas cada vez maiores sob a sua definição.

Volto ao livro de Sloterdijk, Palácio de Cristal – Para Uma Teoria Filosófica da Globalização. Escreve que os automóveis em que nos deslocamos hoje em dia são, numa escala reduzida, comparáveis com as embarcações dos descobrimentos, no sentido em que, neles, saímos rumo à aventura num espaço ainda semelhante ao ninho. Saímos de casa com o conforto da casa, no fundo. Na esperança de alargar essa noção de casa e de conforto territorial – que para nós, humanos, tem necessariamente de compreender um espaço referencial que é cultural e teórico.

O que acontece ao espaço a que nem podemos chamar de lugar, então? Ao espaço a que não podemos dar uma definição afetiva que não seja a da espera ou a da exasperação, se a espera se prolonga?

É este o espaço que me tem vindo a interessar e sobre o qual recai o meu trabalho e a minha atenção. Digo que não é um lugar, talvez também na imagem dos não-lugares de Marc Augé; um espaço que atravessamos entre dois lugares.

No cruzamento destes dois autores, ocorre-me perguntar: haverá alguma diferença entre o que é a zona de conforto para o humano – e talvez para os animais de cativeiro – e para o não humano?


Poder-se-á falar de uma zona de conformidade para o humano no lugar da zona de conforto? O que é o “piloto automático” para um animal?

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