Maquete para Ensaios Sobre a Contaminação (excerto) |
Há uns tempos, pensei chamar a este trabalho Assuburbar. Estava com o Ricardo Ribeiro na estação da Reboleira para receber uns livros do Sr Teste e o nome surgiu. Do facto de estarmos assoberbados com o subúrbio.
Assuburbar é um verbo. Determina o processo de nos tornarmos
suburbanos numa altura em que a noção de centro urbano desaparece a pouco e
pouco.
O subúrbio vem a ser o sítio a que não prestamos atenção; que não
tem nem constitui zonas de interesse ou relevo como marcos no território. Por
esta razão, é um espaço ao qual não prestamos atenção.
Quer vivamos, trabalhemos ou apenas passemos por ele, acaba por
ocupar uma percentagem cada vez mais significativa do nosso tempo. Designando como
subúrbio todas as zonas a que não prestamos atenção, percebe-se que, ao ritmo a
que vivemos, deixamos áreas cada vez maiores sob a sua definição.
Volto ao livro de Sloterdijk, Palácio de Cristal – Para Uma Teoria
Filosófica da Globalização. Escreve que os automóveis em que nos deslocamos
hoje em dia são, numa escala reduzida, comparáveis com as embarcações dos
descobrimentos, no sentido em que, neles, saímos rumo à aventura num espaço
ainda semelhante ao ninho. Saímos de casa com o conforto da casa, no fundo. Na esperança
de alargar essa noção de casa e de conforto territorial – que para nós,
humanos, tem necessariamente de compreender um espaço referencial que é
cultural e teórico.
O que acontece ao espaço a que nem podemos chamar de lugar, então?
Ao espaço a que não podemos dar uma definição afetiva que não seja a da espera
ou a da exasperação, se a espera se prolonga?
É este o espaço que me tem vindo a interessar e sobre o qual recai
o meu trabalho e a minha atenção. Digo que não é um lugar, talvez também na
imagem dos não-lugares de Marc Augé; um espaço que atravessamos entre dois
lugares.
No cruzamento destes dois autores, ocorre-me perguntar: haverá
alguma diferença entre o que é a zona de conforto para o humano – e talvez para
os animais de cativeiro – e para o não humano?
Sem comentários:
Enviar um comentário