sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Ensaios Sobre a Contaminação VII





Ensaios Sobre a Contaminação (pormenor)


Augé fala-nos dos lugares como simbólicos, diz-nos que constituem um meio de reconhecimento para aqueles que os herdaram e não de conhecimento, que são universos fechados onde tudo é signo.
O subúrbio é, por aqui, um espaço irreconhecível aos olhos de quem espera um lugar marcado por uma centralidade definidora histórica e cultural. Augé diz-nos, também, que estes lugares são ficcionais. Temos hoje mais facilidade em perceber a história e a cultura como ficções de adaptação de um modo de ver a agir a um território, como fórmulas que permitem temperar os hábitos de uma comunidade; que nos permitem chamar a um agregado de pessoas uma comunidade.
Volto aqui à imagem do mundo que Sloterdijk apresenta e de que falei antes. Será que carregámos de tal modo a significação dos lugares que não nos resta atenção ao espaço? Será que o mapa de informação e significação se tornou de tal modo carregado que não nos permite, já, lidar com o território fora dele? Ao comparar as viagens dos descobridores com as viagens dos automobilistas contemporâneos, Sloterdijk faz referência às necessárias diferenças de escala. Uma dessas diferenças é a relação com o desconhecido; a forma como a viagem decorre quando sabemos o caminho de cor e esperamos que o trajeto se dê exatamente da mesma forma sempre que o repetirmos – e repetimo-lo muitas vezes – por um lado, e quando estamos a mapear, sem saber nada do que poderá passar-se em seguida.

Volto agora à questão da zona de conforto ou de conformidade. Qual é a diferença na atenção e na perceção do espaço, na disponibilidade para o espaço, nos descobridores e nos mapeadores, por um lado, e naqueles que percorrem as rotas que estes descobridores delinearam? Aquela proposta de segurança, que vem da conformação a uma estrutura simbólica de definição, que interferência tem na nossa capacidade de perceber o espaço – neste caso, e em oposição ao lugar – o subúrbio?

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