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segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Cenas que encontrei aqui nos cadernos V




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Agora também vão dizer que sim
Agora sim, vão dizer que foste o que sempre
Mas sempre
Soubeste que não te diriam

Que a tua estrada começou no amor
Onde só a tua estrada começa,
Que és bem-vindo a toda a parte
Que entre ti e as palavras, afinal
Não era metal nenhum,
Mas sim um halo que liberta.

E hão de dizer-te que sim,
Que era assim porque punhas os ossos na escrita
(que os tinhas mais, que tinham tinta)
Onde outros só penas, pavões

Dizer que respiravas os poemas, que os comias,
Ou cagavas os silêncios que bebias
Ou nem isso. Nem isso.
Dizer que eras o ser perfeito que não foram.
Dizer que em ti não havia nem cagar, nem comer
Dizer que eras poeta, enfim, e que ser poeta é ser diferente
Ele há lá lugar para comer ou para cagar para quem é livre
Como te percebem, agora,
Subidos da escada da ocasião!

Mas a tua escada é bem diferente, a tua entrada
A tua escada é uma porta de passagem
Poço de ondas reviradas, corda solta vertical
Quase esticada
A tua escada é, e imagino que passes descansado
Porque os gatos lá saberão prolongar os teus poemas,
A tua escada, como um ar que se despisse,
A tua escada ainda grita Aqui! Passagem de Tempo;
Não conta para os seus fins comerciais, não cabe nas caixas do seu altar
Nem saberia, porventura, armar em mais autoridade
Apenas serve desenhar palavras no bafo vivo de soprar de frente

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Cenas que encontrei aqui nos cadernos IV


Às vezes há coisas que morrem no tempo e nos comem por dentro, às vezes à força de querer parecer não vertemos o tempo morrido nas coisas que morrem. Às vezes. Há tempos que vergam a morte a um tempo sem sombras, há dores luminosas para tudo, faróis. São tantas as vezes, amigos…

A crise é uma cena de tempo, como alguém correndo corda abaixo na garganta, o nó dos soluços na respiração mais as luzes de palco… nunca foi grande combinação. Regateio o silêncio com o tempo e com tudo e navego por dentro dos tempos que sobram, na sombra dos passos para a frente.

Há loucos que dobram palavras ao vento e esperam senti-las como nunca foram, há loucos que dobram sentidos, descrentes, há ocos cadáveres, vícios decentes, às vezes há tempos que morrem com as coisas que dentro da força nos comem. Incêndios de mentes vertidos nas sombras que correm vertigens para a frente.

Há um ver que ainda não tem olhar, há incêndios na sombra dos gestos, à espera, há ditados de tempos de fome, de gente, de sempre, há partilhas. Há gente que nos olha e sente.

E é isto, no fundo. No outro dia olhei em volta e vi o espaço onde recomecei a ver, um dia, à conta de alguém que já não é. Carreguei-o desde sempre como um fardo, até ver que dava mais energia à ausência sem reparar que ele lá estava. Sair do meio de um rio que tem mais luz que tempo, às vezes, e cegar para tudo o que for sombra, nesse instante. Depois ligar e não querer estar sozinho. Depois curar e crescer. Espelhar e polir.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Cenas que aqui tinha nos cadernos II (esta é para ti, Joaninha!)


e às vezes, as coisas organizam-se connosco de tal forma, que o seu som se nos devolve em eco.

Cenas que aqui tinha nos cadernos I


O poema é esta imagem que, partindo das palavras, nos cativa. Um som por dentro do som, uma intenção. Talvez nem saiba. E mesmo assim, um crescimento entre por dentros; a aparência do caos. E o caos de a querer ordenar.