Às vezes há coisas que morrem no tempo e nos comem por
dentro, às vezes à força de querer parecer não vertemos o tempo morrido nas
coisas que morrem. Às vezes. Há tempos que vergam a morte a um tempo sem
sombras, há dores luminosas para tudo, faróis. São tantas as vezes, amigos…
A crise é uma cena de tempo, como alguém correndo corda
abaixo na garganta, o nó dos soluços na respiração mais as luzes de palco…
nunca foi grande combinação. Regateio o silêncio com o tempo e com tudo e
navego por dentro dos tempos que sobram, na sombra dos passos para a frente.
Há loucos que dobram palavras ao vento e esperam senti-las
como nunca foram, há loucos que dobram sentidos, descrentes, há ocos cadáveres,
vícios decentes, às vezes há tempos que morrem com as coisas que dentro da
força nos comem. Incêndios de mentes vertidos nas sombras que correm vertigens
para a frente.
Há um ver que ainda não tem olhar, há incêndios na sombra
dos gestos, à espera, há ditados de tempos de fome, de gente, de sempre, há
partilhas. Há gente que nos olha e sente.
E é isto, no fundo. No outro dia olhei em volta e vi o
espaço onde recomecei a ver, um dia, à conta de alguém que já não é.
Carreguei-o desde sempre como um fardo, até ver que dava mais energia à
ausência sem reparar que ele lá estava. Sair do meio de um rio que tem mais luz
que tempo, às vezes, e cegar para tudo o que for sombra, nesse instante. Depois
ligar e não querer estar sozinho. Depois curar e crescer. Espelhar e polir.
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