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terça-feira, 13 de março de 2012

The Amazing Powers of Time III


Lembro-me de há uns tempos, ver um programa de uma empresa de camionagem que estava com problemas com a sua seguradora devido ao aumento do número de acidentes com os seus camiões. Consultaram um especialista qualquer que, após analisar e avaliar o serviço, disse que o mal deles era sono. Sono e falta de tempo livre. Exatamente, isso mesmo: sono. Não é que precisassem de trabalhar mais, nem de aumentar impostos, nem de arranjar máquinas que permitissem aumentar a produção, nem de camiões melhores com segurança por radar transcendental. Precisavam de parar e dormir, manter os ritmos circadianos, e de ter tempo definido para estar com a família, para descansar, para relaxar. O resultado: menos acidentes. Mais alegria no trabalho, melhor rendimento. Mais por menos, no fundo.
É interessante pensar que, quando estamos em stresse, a nossa margem de resposta reduz-se significativamente. Por muito que, na praia, pensemos que vamos fazer isto e aquilo e o outro, quando chega a hora, a reação é sempre a mesma que não queríamos. A empresa de camionagem, vendo os seus condutores fatigados a conseguir cada vez menos cumprir os horários estabelecidos e, assim, a falhar prazos e entregas e, pior, a ter acidentes por tentar ir depressa demais dentro da falta de atenção, para resolver o problema, decide apertar ainda mais as condições e aumentar as horas de trabalho. Resultado? Pois.
O ritmo circadiano. Parece que há qualquer coisa assim, é verdade; que nos movemos como um relógio, não pelos segundos contados, mas pelo facto de nos organizarmos em torno de um ciclo diário. Circa Diem. Cerca de um dia. Parece que é importante para a nossa homeostasia e tudo; que dita a regularidade de quase todas as nossas funções, da digestão à temperatura, à regulação de humor, à regeneração celular, aos ciclos de sono e vigília… em suma, dependemos de uma certa circularidade padrão. Aquela malta do yin yang também acertou aqui.
Estou a escrever isto e a lembrar-me de um texto que o Roberto Reveilleau me enviou há uns tempos, de um rabino brasileiro, sobre o aproveitamento do tempo. Sobre a ideia de se aproveitar o tempo, de nos explorarmos, no fundo, e da forma como isso aniquilou a ideia de tempo livre, de tempo para dar tempo ao tempo, como dizia o outro.
Passo o texto aqui, agradecendo ao Roberto e ao Rabino:


OS DOMINGOS PRECISAM DE FERIADOS

Toda sexta-feira à noite começa o shabat para a tradição judaica. Shabat é o conceito que propõe descanso ao final do ciclo semanal de produção, inspirado no descanso divino, no sétimo dia da Criação.
Muito além de uma proposta trabalhista, entendemos a pausa como fundamental para a saúde de tudo o que é vivo. A noite é pausa, o inverno é pausa, mesmo a morte é pausa. Onde não há pausa, a vida lentamente se extingue.
Para um mundo no qual funcionar 24 horas por dia parece não ser suficiente, onde o meio ambiente e a terra imploram por uma folga, onde nós mesmos não suportamos mais a falta de tempo, descansar se torna uma necessidade do planeta.
Hoje, o tempo de 'pausa' é preenchido por diversão e alienação. Lazer não é feito de descanso, mas de ocupações 'para não nos ocuparmos'. A própria palavra entretenimento indica o desejo de não parar. E a incapacidade de parar é uma forma de depressão.
O mundo está deprimido e a indústria do entretenimento cresce nessas condições. Nossas cidades se parecem cada vez mais com a Disneylândia. Longas filas para aproveitar experiências pouco interativas. Fim de dia com gosto de vazio. Um divertido que não é nem bom nem ruim. Dia pronto para ser esquecido, não fossem as fotos e a memória de uma expectativa frustrada que ninguém revela para não dar o gostinho ao próximo.
Entramos no milênio num mundo que é um grande shopping. A Internet e a televisão não dormem. Não há mais insônia solitária; solitário é quem dorme. As bolsas do Ocidente e do Oriente se revezam fazendo do ganhar e perder, das informações e dos rumores, atividade incessante. A CNN inventou um tempo linear que só pode parar no fim.
Mas as paradas estão por toda a caminhada e por todo o processo. Sem acostamento, a vida parece fluir mais rápida e eficiente, mas ao custo fóbico de uma paisagem que passa. O futuro é tão rápido que se confunde com o presente. As montanhas estão com olheiras, os rios precisam de um bom banho, as cidades de uma cochilada, o mar de umas férias, o domingo de um feriado...
Nossos namorados querem 'ficar', trocando o 'ser' pelo 'estar'. Saímos da escravidão do século XIX para o leasing do século XXI - um dia seremos nossos?
Quem tem tempo não é sério, quem não tem tempo é importante. Nunca fizemos tanto e realizamos tão pouco. Nunca tantos fizeram tanto por tão poucos...
Parar não é interromper. Muitas vezes continuar é que é uma interrupção.
O dia de não trabalhar não é o dia de se distrair - literalmente, ficar desatento. É um dia de atenção, de ser atencioso consigo e com sua vida. A pergunta que as pessoas se fazem no descanso é 'o que vamos fazer hoje?' - já marcada pela ansiedade. E sonhamos com uma longevidade de 120 anos, quando não sabemos o que fazer numa tarde de Domingo.
Quem ganha tempo, por definição, perde. Quem mata tempo, fere-se mortalmente. É este o grande 'radical livre' que envelhece nossa alegria - o sonho de fazer do tempo uma mercadoria.
Em tempos de novo milênio, vamos resgatar coisas que são milenares. A pausa é que traz a surpresa e não o que vem depois. A pausa é que dá sentido à caminhada. A prática espiritual deste milênio será viver as pausas. Não haverá maior sábio do que aquele que souber quando algo terminou e quando algo vai começar.
Afinal, por que o Criador descansou? Talvez porque, mais difícil do que iniciar um processo do nada, seja dá-lo como concluído.
Texto do Rabino Nilton Bonder,
da Congregação Judaica

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

The Amazing Powers of Time II


Dou-me conta de que esta é apenas mais uma forma que temos de ser diferentes uns dos outros, e de sermos fonte de riqueza naquilo que a diferença traz quando a trocamos. Dou-me conta disto e penso naquelas maçãs acreditadas que têm a mesma cor e a mesma forma e o mesmo tamanho e a mesma falta de sabor e em tudo o que é preciso fazer para que as maçãs fiquem assim todas iguais (coisa que nem com os hambúrgueres do McDonalds haviam conseguido) e em como temos sistemas de controlo altamente dispendiosos para manter isto regulamentado ao mesmo tempo que colamos no verniz autocolantes 100% criativos e originais. Sim, talvez porque as maçãs não tenham bem o mesmo sabor, é preciso autocolantes que dizem É muita bom! e que estragam aquela película de verniz que protege a casca e dá aquele brilho que fica tão bem com as luzes do supermercado.
No outro dia, diziam-me, já nem sei a que propósito, que as ditas eram assim pela facilidade que isso trazia no seu transporte pelo mundo. Por todo o mundo. Porque poupavam espaço e porque poupavam tempo. E é verdade. E já comi maçãs de tantos sítios diferentes que até já perdi a conta. Mesmo até daqui debaixo, da mercearia, que as tem portuguesas! Curiosamente, essas costumam ter tamanhos variados e sabores mais intensos mas, por não caberem na especificação, não entram nas contas do mundo.
Seria curioso, pedir ao Sr Zimbardo que fizesse um estudo do tempo na produção das maçãs. Produção, sim, pelo menos das dos autocolantes. Creio que as outras ainda são cultivadas. Ver, antes de mais, se há grandes cálculos de tempo para o processo até chegar à maçã. Talvez até haja horários nas maçãs globais. Talvez sejam dispostas tipo as organizações fabris. Um dia, eventualmente, arranjar-se-ão uns chips de inteligência artificial e criar-se-ão sindicatos de maçãs e peras. E abacaxis. Sim. Mais o departamento de raiz sintética e os movimentos naturalistas Abacate ao Sol. E greves de sementes e todas essas coisas de telejornal.

Intriga-me este contraste entre a certeza volumétrica das maçãs, aquele ar contido, certinho, e a nossa constante busca do que não lá está; o nosso constante desequilíbrio. Como é que definimos tantas normas e regras e leis, como é que limitamos tanto tudo à nossa volta, como é que confinamos tanto a nossa forma de ver e perceber o mundo a um rigor perfecionista de aparências qualquer e depois ficamos aquém, nós mesmos, caindo sempre em cada vez mais desvios de comportamento? Ou ficamos gordos ou magros ou neuróticos ou psicóticos ou com fome ou com gula ou com ciúmes ou sei lá… e cada coisa nova é uma gaveta nova, explorada convenientemente para dar mais um produto aclimatado e acondicionado de acordo com as tecnologias mais recentes.
O que é que tudo isto tem a ver com o tempo e com a palestra do Zimbardo? Primeiro, pelo óbvio. Se pensarmos que isto acontece em todo o lado do nosso mundo ocidental e que o nosso mundo ocidental é cada vez mais todo o lado no planeta, e se pensarmos que os ditames do relógio e da produtividade vão crescendo e moldando tudo, que até as escolas já são preparadas em função da resposta que as crianças terão de dar, um dia mais tarde, reparamos que é tudo um bocado como as maçãs. Mas depois, olhando para a palestra do Zimbardo, essa mesma, reparamos que não é bem assim e eu volto à pergunta que fiz antes, Como é que isto molda as pessoas?
Como é que podemos esperar adaptar-nos da mesma forma a condições diferentes?

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

The Amazing Powers of Time I

http://www.youtube.com/watch?v=A3oIiH7BLmg

Oiço esta palestra, ou este excerto de palestra, de Philip Zimbardo e a questão intriga-me. A vivência do tempo varia consoante o local. Parece que se planeia mais em certos sítios. Parece que na Sicília, o dialeto nem prevê conjugações de verbos no futuro. Parece. Parece, sobretudo, que, a ser verdade, toda esta história da globalização seria uma enorme confusão. Na verdade, devo corrigir: parece que, a ser assim, toda esta história da globalização, na forma a que assistimos hoje em dia, redunda necessariamente nisto. É um pouco da mesma forma como se falam línguas diferentes, com articulações e formas de pensamento diferentes. Não é por acaso, e vai mais longe do que se pensava!

Diz ele que há seis formas de encarar o tempo: uma orientação para o passado que pode ser positiva, de guardar álbuns de família e dos bons velhos tempos, ou negativa, lembrando tudo o que correu mal. Depois, há aqueles que vivem no presente, procurando o prazer e evitando a dor, não planeando nada nem sentindo necessidade disso. Há ainda aqueles que estão orientados para o futuro, adiando recompensas, trabalhando para objetivos distantes no tempo com esperança num resultado melhor.

Se pensarmos no que é melhor ou pior para poder escolher, o que faremos? E, se cada um de nós pensar na sua forma de ver o tempo e decidir como se sente melhor consigo mesmo, como será? E como se relacionará com outros com outra perspectiva de tempo?

Um exemplo desta palestra, o facto de as zonas equatoriais serem muito mais voltadas para o presente por as variações climatéricas serem menores, intriga-me. O que se passará numa zona de grande amplitude térmica? Ou numa zona com inverno rigoroso ou um verão rigoroso? O que se passará nas zonas em que há seis meses de luz? E como é que isso molda as pessoas?