sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

The Amazing Powers of Time II


Dou-me conta de que esta é apenas mais uma forma que temos de ser diferentes uns dos outros, e de sermos fonte de riqueza naquilo que a diferença traz quando a trocamos. Dou-me conta disto e penso naquelas maçãs acreditadas que têm a mesma cor e a mesma forma e o mesmo tamanho e a mesma falta de sabor e em tudo o que é preciso fazer para que as maçãs fiquem assim todas iguais (coisa que nem com os hambúrgueres do McDonalds haviam conseguido) e em como temos sistemas de controlo altamente dispendiosos para manter isto regulamentado ao mesmo tempo que colamos no verniz autocolantes 100% criativos e originais. Sim, talvez porque as maçãs não tenham bem o mesmo sabor, é preciso autocolantes que dizem É muita bom! e que estragam aquela película de verniz que protege a casca e dá aquele brilho que fica tão bem com as luzes do supermercado.
No outro dia, diziam-me, já nem sei a que propósito, que as ditas eram assim pela facilidade que isso trazia no seu transporte pelo mundo. Por todo o mundo. Porque poupavam espaço e porque poupavam tempo. E é verdade. E já comi maçãs de tantos sítios diferentes que até já perdi a conta. Mesmo até daqui debaixo, da mercearia, que as tem portuguesas! Curiosamente, essas costumam ter tamanhos variados e sabores mais intensos mas, por não caberem na especificação, não entram nas contas do mundo.
Seria curioso, pedir ao Sr Zimbardo que fizesse um estudo do tempo na produção das maçãs. Produção, sim, pelo menos das dos autocolantes. Creio que as outras ainda são cultivadas. Ver, antes de mais, se há grandes cálculos de tempo para o processo até chegar à maçã. Talvez até haja horários nas maçãs globais. Talvez sejam dispostas tipo as organizações fabris. Um dia, eventualmente, arranjar-se-ão uns chips de inteligência artificial e criar-se-ão sindicatos de maçãs e peras. E abacaxis. Sim. Mais o departamento de raiz sintética e os movimentos naturalistas Abacate ao Sol. E greves de sementes e todas essas coisas de telejornal.

Intriga-me este contraste entre a certeza volumétrica das maçãs, aquele ar contido, certinho, e a nossa constante busca do que não lá está; o nosso constante desequilíbrio. Como é que definimos tantas normas e regras e leis, como é que limitamos tanto tudo à nossa volta, como é que confinamos tanto a nossa forma de ver e perceber o mundo a um rigor perfecionista de aparências qualquer e depois ficamos aquém, nós mesmos, caindo sempre em cada vez mais desvios de comportamento? Ou ficamos gordos ou magros ou neuróticos ou psicóticos ou com fome ou com gula ou com ciúmes ou sei lá… e cada coisa nova é uma gaveta nova, explorada convenientemente para dar mais um produto aclimatado e acondicionado de acordo com as tecnologias mais recentes.
O que é que tudo isto tem a ver com o tempo e com a palestra do Zimbardo? Primeiro, pelo óbvio. Se pensarmos que isto acontece em todo o lado do nosso mundo ocidental e que o nosso mundo ocidental é cada vez mais todo o lado no planeta, e se pensarmos que os ditames do relógio e da produtividade vão crescendo e moldando tudo, que até as escolas já são preparadas em função da resposta que as crianças terão de dar, um dia mais tarde, reparamos que é tudo um bocado como as maçãs. Mas depois, olhando para a palestra do Zimbardo, essa mesma, reparamos que não é bem assim e eu volto à pergunta que fiz antes, Como é que isto molda as pessoas?
Como é que podemos esperar adaptar-nos da mesma forma a condições diferentes?

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