sábado, 8 de janeiro de 2011

XI

A Repetição é criativa.

Pois.

Ouve-se mais e mais atentamente e quanto mais se ouve, mais se trazem mundos para o gesto que se repete.

Atenção na repetição, portanto.
Mas isto nem sempre aparece tão directo… o pensamento cria imagens mas também fica preso nelas. Nem consigo chamar pensamento àquela estória de ficar obcecadamente de roda de uma imagem, acho que isso é mais quando ele bloqueia.

Há magia quando cada ponto tem o seu valor por si mesmo mas ainda mais como referência que nos conduza a atenção para outro ponto dentro da imagem, que haja um percurso entre os pontos nesta, um bocado como com as notas escritas nas partituras. Que haja uma melodia e um ritmo e... e remeta para algo mais, ainda, lá fora.

A repetição é criativa, dizia.
Mas não basta repetir. Como diz o Cesariny, faz-se luz por um processo de eliminação de sombras (uma imagem vale por mil palavras, mas é sempre o poema que traz as melhores imagens). E de cada vez que se acende a luz na sombra, há um espanto e há uma construção do novo que é uma habituação.

Essa eliminação, penso, é o pensamento atento, desperto, por dentro de um certo movimento interior. Uma condução, uma clarificação. E é interessante que se escolha sempre a fixidez e a imobilidade para dar conta do imenso movimento que somos; que sejam sempre os marcos na passagem. Ao longo do tempo, vamos descobrindo novas formas de o fixar e nomear e calcular, mas é sempre de movimento que isto trata, da nossa relação nele.

Pensar como uma contabilização do movimento. Pesar, medir, calcular e projectar percursos para um espaço ulterior de libertação, de luz, para seguir as palavras do poeta.
Andar em círculos, e por vezes, por um qualquer acidente de percurso, ver o círculo alargar-se e falar em espirais. Fixar o momento, espécie de mijinha territorial para alargar território e seguir. Depois instalarmo-nos nele. Depois buscarmos mais.
Outra vez.

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