quarta-feira, 15 de junho de 2011

XV - Amigowicz. Milk it. Aeroporto. MusicBox.

OK, eu explico.
São quatro da tarde, mais ou menos, num dia qualquer de há uns quinze anos atrás. Sim, é isso, lembro-me perfeitamente.
Estou com o Koto a descer a avenida que vem do aeroporto, acho que vínhamos dos correios, mas podia ser outra cena qualquer. Está um avião parado ali à nossa frente e o Koto começa a cantar o Milk it, dos Nirvana. Fantástico, a cena ouve-se, apesar da turbina do avião. Granda Kotowicz. Sempre em frente.

Hoje entrei no MusicBox para um concerto de uma banda nova, The Quartet of Woah.
E vi lá aquele puto outra vez, aos saltos no palco, a curtir como se não houvesse mais nada, grande pica.
Faz-me lembrar que a primeira vez que ouvi falar do Cântico Negro, do Régio, foi com ele. Acho eu, pelo menos...
A cena sempre foi essa, seguir os seus passos. A vida é fodida, mas segue-se em frente.
Faço um flash back e às tantas a vida dele passou toda a gritar em frente à merda da turbina, e sempre a fazer-se ouvir. E a turbina a largar bombas poderosas, man. A mãe a morrer, o pai a morrer, as bandas a nunca dar o resultado que podiam, os empregos a só dar quase o suficiente... Já vi muita gente a cair por menos...

Sempre em frente: A música começa, no music box. Um rock poderoso, musculado, filha da puta. Os temas seguem-se, a energia cresce, tá lá tudo. O Koto está aos saltos em palco, granda pica. Disse como se não houvesse mais nada mas não, não é bem isso. Estava lá tudo. Desde os 14 anos que conheço este gajo e estava lá tudo, a energia toda da merda toda que o homem atravessou tá lá e é um granda rock e eu acho que é isso, no fundo. Sempre em frente. A própria banda que ali está agora parece que passou por tudo, gente a bazar, gajos com filhos e empregos, com pouco tempo de ensaios, as cenas a parecerem todas mal e há ali aqueles gajos que continuam.
De cada vez que apareço num ensaio, há mais personalidade, mais músculo, mais pica.


Sempre em frente: o concerto acaba e eu venho para casa escrever isto: a última imagem do concerto é o Koto a dar o último grito do concerto: A vida é fodida, a turbina é uma cena que quase ensurdece, mas não. Foda-se, não! Há caminho! Um gajo fica a pensar É um grito de raiva e é a cena do rock e eu sei lá o quê mas para mim este é o som dos passos do animal, sempre em frente. Tá lá tudo, toda a cena que se atravessou para chegar ali tá lá. E nem é uma glorificação, nem um acto de orgulho, acho que isso é o que cai quando um gajo vira a guitarra contra o próprio amplificador; é um gajo a carregar o mundo que deixa para trás. O som dos passos é todo o som de cada passo, só isso.

É por isto que o rock é uma poesia poderosa, não é, Amigowicz?
A turbina do avião está sempre lá a foder o juízo a todos, mas um homem ouve é o som dos seus passos.
Sempre em frente

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