domingo, 30 de outubro de 2016

17 Studies II

Este convite feito ao Lucas Dietrich faz todo o sentido neste projecto, na ideia de um processo aberto e partilhado.

Sempre me intrigou esta coisa de, apesar de tudo no mundo surgir da interacção dos seus elementos, o trabalho artístico ser tantas vezes mostrado como algo fechado.
Assim, disse ao Lucas que queria algo que envolvesse as pessoas no processo, que abrisse o processo criativo às pessoas e não o mostrasse como um resultado fechado. Queria partilhar o que é o processo e não o seu resultado.


Acabámos por chegar a este cartaz

Lucas Dietrich, Miguel Rodrigues, Cartaz 17 Studies


e a um espaço que podia ser abertamente partilhado. Algo de muito simples: um cartaz com uma imagem e um espaço em branco, a frase this would/could be some interchangeable text, escrita manualmente depois de o cartaz estar afixado e tempo. Bastante tempo.

Inicialmente, colámos os cartazes pelas ruas de Lisboa e de Berlim. Sobretudo, em zonas de passagem: paragens de metro, de comboio, de autocarro, viadutos, proximidade de centros comerciais, zonas de grande intensidade de trânsito.
Ao mesmo tempo, pedimos a pessoas que levassem estes cartazes e que os colassem, elas também, em sítios onde passassem, noutras cidades ou países.

Criámos um site, 17studies.com, onde fomos registando o processo, pedindo e gravando imagem e som dos locais dos cartazes.

Interessava esta ideia de jogar com o tempo, de perceber se teríamos mais intervenção humana ou mais deterioração, buscando inspiração no ready made malheureux o célebre presente de casamento de Duchamp para a sua irmã, na forma como este precisava do acaso, na intervenção das condições climatéricas, tanto como de um conjunto de instruções enviadas por carta à irmã,

Não saber se o cartaz sofreria alguma intervenção nem que tipo de intervenção sofreria, nem que pessoas, se algumas, executariam essa intervenção.
Não saber sequer se sobreviveria, tendo ou não tendo sofrido intervenção humana.


Miguel Rodrigues, Lucas Dietrich, 17 Studies em Lisboa (Julho, 2015)


De repente, ter todo um processo dependente apenas do acaso; estar na dependência desse acaso para ter resultados.

A imagem daquela parcela visual do meu quotidiano à qual, durante tanto tempo, prestara tão pouca atenção, era agora deixada ao mesmo acaso, sujeita à mesma improbabilidade de resposta dos transeuntes.




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