sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

I

De qualquer maneira, isto começa assim. Às vezes, penso música. Venho a passar no caminho e penso música. As imagens ligando-se ao seu movimento na minha passagem. Vejo isto como se ouvisse. Como na música, um certo movimento surgindo com o som, e as coisas dançantes, o logo. Vê-se o movimento numa imagem como se vê o movimento do som numa partitura. Pelo menos, julgo que assim seja; nunca aprendi a ler assim tão bem que as notas não me surgissem como imagens percorridas num desenho. Como na escrita. A escrita, no fundo, também se desenha, também é toda pulso e estômago e tensão visual.

E aquele inominável que atravessa as coisas. Fico a olhar para a partitura, aquela cena que ainda não sei ler, curioso como um puto que perguntasse Por onde passa o som? Quer dizer, ainda podia pensá-lo atravessando aqueles buracos, mas metade está tapada. É impressionante, porque não se ouve as bolas pretas nem as bolas brancas, nem sequer o som que surge ao escrevê-las. Aquelas linhas são cabos enormes, às tantas! Cabos por onde a tensão vai passando, e as notas retêm-na mais um bocadinho aqui, num tom mais agudo ali e… e ao ouvir, a tensão espalha-se, acumula-nos naquele tempo de passar por dentro e no fim, abre. E passou sempre algo por nós. Que ressoa.

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