sábado, 30 de janeiro de 2010

II

E é como nas imagens. Fazemos fotografia registando o que vemos. Que é como se diz, desenhando com a luz. A luz acende-nos sentidos com as imagens, ilumina modos de pensamento e de acção. E a máquina retém esses sentidos construídos. Recebe-se a luz com a impressão de que algo se está a passar e que, de algum modo, nos faz sentido ali, mas o que dá sentido é a forma da construção; a forma como as coisas se interligam dentro de cada imagem, de imagem para imagem num trabalho, de trabalho para trabalho. Como o curso ininterrupto de uma percepção que se vai tornando mais atenta e sensível, mais inteligente. Como um rio. Sim: Instalamo-nos num rio de pensamento e sentimo-nos fluir.
O rio do pensamento. Os ingleses dizem-no stream of thought, e é verdade; é um rio vivo que corre e se adapta aos percursos, que se transforma integrando as condições existentes. É uma corrente de pensamento porque segue inabalável no seu curso, a construção de sentido nas imagens e a construção de nós com esse sentido; a organização de um pensamento visual.
O rio do pensamento corre dentro da fotografia. Olhamos para lá e sentimos. Há movimento, sentidos sugeridos por entre ritmos, caminhos abertos, caminhos cortados. Cores. Contrastes, sombras. E a eterna questão O que é que está a acontecer? A imagem é como um coro de geómetras que a sensação de olhar entoa. Carrega-se no botão da máquina fotográfica e no fim, aparece um ditado - como um texto ou uma frase musical.

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