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| Henri Cartier-Bresson - The Var department. Hyères. |
Voltei a olhar e pensei Talvez não tenha tido tempo… afinal, naquela altura não havia auto-focus nem nenhuma das proezas tecnológicas que tornam o trabalho do fotógrafo, hoje em dia, tão mais simples.
«Fotografar é reter a respiração quando todas as nossas faculdades convergem para captar a realidade em fuga; é então que fazer uma imagem é uma grande alegria física e intelectual.»
(Photographier : c’est retenir son souffle quand toutes nos facultés convergent pour capter la réalité fuyante ; c’est alors que la saisie d’une image est une grande joie physique et intellectuelle)
Penso nesta frase e volto a olhar para a imagem.
O rio do pensamento corre dentro da fotografia, dizia, e o curso da água define as margens tanto quanto estas definem o curso do rio.
E nisto, o ponto que faltava: nenhum ponto de foco teria integrado melhor toda a imagem do que aquele, pois é, ao mesmo tempo, o ponto menos importante da imagem, e aquele que serve de eixo de integração todos os outros pontos, esses sim, importantes.
Seria possível dizer algo assim, premeditadamente, sem que parecesse uma colagem? E, não sendo algo pensado, previsto, seria ao calhas? Seria sorte, ou acaso? E o que é o acaso?
O instante decisivo: vimos a cena, encontramo-nos reflectidos num padrão qualquer, enquadramo-nos com ele da melhor forma que encontramos, … confirmamos tudo, e a fotografia é tudo o resto; é tudo o que deixamos acontecer de espontâneo, apesar de tudo isto. É quando todo este carrossel de elementos técnicos não suprime, mas liberta a intenção e a intuição criativa do fotógrafo.
Abrir a porta ao inconsciente. Como procuravam os surrealistas. O acaso torna-se o assunto principal da fotografia e deixa de ser o fotografar sem prestar atenção, como às vezes se entende, e passa a ser o foco de toda a atenção: tratar de tudo para que o acaso possa surgir e uma focagem aparentemente aleatória possa ser o centro propulsor de toda a dinâmica de uma imagem.

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