domingo, 31 de outubro de 2010

IX Sobre o Gozo - Ken Robinson (TED.com) e Pablo Aimar

Ken Robinson says schools kill creativity Video on TED.com

A história do gozo, ainda...
No outro dia, estava a ler o Pablo Aimar na bola, a a propósito do aniversário do Maradona:
«Lembro-me perfeitamente de algumas jogadas que me fizeram sorrir dentro do campo, como algumas que tenho com Saviola. Dentro do campo disse “que maravilha”. Quem viu isto não sentiu metade da alegria que eu senti, porque eu sou a pessoa que mais alegria sente por uma boa jogada, no momento em que ela acontece. Saliento algumas jogadas, sobretudo com Javier [Saviola], em que vimos exactamente o mesmo movimento, mesmo sem falar. Essa ligação deu-me um grande gozo, está a dar-me muito prazer jogar futebol»

Aimar e Saviola (foto )
 
Fiquei espantado: "Dentro do campo disse “que maravilha”. Quem viu isto não sentiu metade da alegria que eu senti, porque eu sou a pessoa que mais alegria sente por uma boa jogada, no momento em que ela acontece."
O que tem isto a ver com o Ken Robinson? Raios! O que tem isto a ver com a criatividade e a fotografia?!?
Tudo. É a tal questão do gozo, que ele aqui coloca na perfeição: "no momento em que ela acontece". O gozo é sempre esse. Estar lá, ser a experiência; aí está o fluir do pensamento criativo.
Fico a pensar no tempo que passamos na escola a focar as imagens dos outros, as experiências dos outros, e na forma como o enfoque é sempre menos no facto de serem experiências do que no facto de serem dos outros.
Estava a ver o golo que ele marcou no jogo deste fim de semana, http://www.youtube.com/watch?v=pSmgoj7Cp7k, e a pensar no comentário dele... Duas coisas são extraordinárias neste vídeo:
Parece que os defesas estão a sair-lhe do caminho. Quase dá para pensar que o gajo combinou isto com eles no balneário, antes do jogo. No entanto, quando olhamos melhor, o que vemos é alguém que está tão ali, tão presente na sua própria acção, que já está a agir quando os outros ainda estão a pensar no que fazer. Bergson dizia que somos tanto mais livres quanto mais perto a nossa imaginação estiver da nossa acção. O golo de Aimar é uma aula prática, para quem não percebe a coisa por escrito.
Já repararam no comentador, na forma como parece que está a viver aquilo com ele, cada vez mais... a pressentir o que vai acontecer? Este vídeo não o mostra bem mas, se reparar, na bancada, a sensação é a mesma. E é essa a beleza da coisa: parece que a energia se partilha. Não sei porquê, mas a energia de um acto criativo, livre, nesse sentido Bergsoniano, sente-se em torno de quem o pratica.
E é por isso que esta malta foge da escola, ou passa o tempo à espera que o tempo passe, tentando não perder esta sensação.
Este golo não é fantástico por ter sido marcado por Pablo Aimar, assim como os quadros do outro Pablo não são fantásticos por serem de Picasso, são fantásticos porque são expressões da nossa criatividade, do nosso poder de nos reinventarmos com o que nos envolve e criarmos, instante a instante, uma realidade mais viva, tão viva que,  voltando a olhar para eles, sentimos ainda o lastro dessa energia. Pablo, o pintor, dizia que se colocássemos um espelho em frente a um bom quadro ele devia embaciar, porque aquele respira...

1 comentário:

  1. sim, a coisa acontece e toca sempre a muitos...

    este tocou-me muito especialmente... parecia que estava a ver um replay mas da boca só me saíu ... "vai... arr.. êê.. aaaaaaahhh.... gooooooooooooooooooolo" http://www.youtube.com/watch?v=aSUm6rRzZLY a partir do segundo 9 quando o Micoli cabecei e se percebe logo que a bola já não volta para trás

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