quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A Bolha Invisível II

E então, pus-me a pensar na tal cena da bolha. O que é isso? E se a bolha é invisível, como é que se mostram fotos para isso? Bom, se há uma bolha que nos separa uns dos outros, quer dizer que tem de haver um espaço dentro e um espaço fora da bolha… talvez por aí possa haver imagens, pensei.

Deixei de ver pessoas e comecei a ver bolhas. Cenas enormes com pensamentos e intenções e indecisões que passeavam pessoas lá dentro.

Confesso que, a partir deste momento, a relação das pessoas umas com as outras deixou de ser tão importante como a relação destas consigo mesmas, através dessa bolha. Como se isto fosse uma espécie de vidro espelhado e nos víssemos sempre de fora, como que por um truque de ilusionismo. Quem olha de fora, vê-nos de fora e nós, não é que nos olhemos, mas pensamo-nos de fora, e construímos uma imagem nossa a partir do que nos chega de fora, também.

Aqui há uns tempos, li o seguinte exercício, que agora proponho: coloque-se em frente a um espelho e, uma vez aí, toque com a sua mão direita na mão direita da figura no espelho.



(sugiro agora que se levante e o faça antes de continuar a leitura)



Na altura, levantei-me e dirigi-me ao espelho e toquei com a minha mão direita na imagem que estava no espelho. Tive uma pequena surpresa e ri-me e corrigi o gesto e voltei para o livro, ainda a pensar Que estupidez, numa coisa tão simples …

O autor, Moshé Feldenkrais, pergunta Qual foi a mão que tocou no espelho? A direita ou a esquerda?

Nesta altura, convido quem lê a fazer-se a mesma pergunta. É interessante. Provavelmente, que se enganou deu-se conta mal esticou o braço e percebeu que estava a tocar no reflexo do seu braço esquerdo. Boa parte das pessoas toca a sua mão esquerda quando faz este exercício. Porquê? Porque temos o hábito de nos relacionarmos com outras pessoas de tal forma, que olhamos a nossa própria imagem no espelho como se fosse um outro, também.

A conclusão de Feldenkrais é de que há gente que rege a sua vida de tal forma, que nunca chega a ter uma relação consigo que não seja condicionada pela presença de outros. Ou seja, mesmo para si mesmas, algumas pessoas continuam a ter uma bolha a separar as suas relações. Faz lembrar o “Eu é um outro” (Je est un autre) de Rimbaud.

A nossa mão direita encontra o seu reflexo, naturalmente, do lado direito do espelho. Depois da surpresa ao tentar tocar a nossa mão esquerda, alguns de nós ainda pensam Ah, pois claro! Os lados no espelho estão trocados! E a adaptação mental é Ok! Continua a ser de outro, a minha imagem de mim, mas desta vez tem os lados trocados.

É esta a bolha que decidi trabalhar aqui. A pergunta:

A que distância estamos de nós mesmos?
Se há um relacionamento (distanciamento) social, pessoal, íntimo, privado, em qual dessas distâncias nos encontramos perante a nossa imagem de nós?

Sem comentários:

Enviar um comentário