domingo, 1 de março de 2015

Roundabout II

É esse espaço que atravessamos sem nos darmos conta que me tem interessado. Essa ideia de que trabalhamos meramente para ter meios para fazer o que nos interessa e que nos dirigimos, daí, para as actividades que nos interessam.

Penso nos espaços antes de pensar nas actividades. Penso no facto de esta atitude nos manter ligados a um afazer mecânico e desinteressado, seja no trabalho, seja no caminho para, e do trabalho. Penso que isso representa a maior parte do tempo que passamos acordados e que esse facto tem, necessariamente, implicações no aproveitamento que fazemos do tempo que nos resta.

Relembro a equação que Kundera constrói em A Lentidão: a velocidade a que nos deslocamos é directamente proporcional à nossa vontade de esquecer e imagino-nos a repetir os mesmos percursos, dia após dia, prestando cada vez menos atenção.

Depois escolhemos actividades cada vez mais intensas e duvido que não haja aqui uma relação com a dessensibilização constante que é a nossa rotina do dia a dia.

Arno Gruen, em A Loucura da Normalidade, fala na loucura de uma contabilização da riqueza num PIB que é um factor exclusivamente quantitativo. Qualquer dinheiro gasto conta. Conta a alimentação, contam as despesas de saúde pela má alimentação, contam as vendas de automóveis, contam as despesas de saúde e de reparação pelos acidentes ou pela poluição.

Também conta o aumento da despesa com a publicidade, com os ginásios, com as actividades radicais, com a crescente necessidade de "aproveitar" o tempo. Também contam as televisões, os computadores, as máquinas fotográficas, os telemóveis, todos os aparelhos que nos fazem estar menos presentes no tempo presente.

Por que razão, numa altura de crescente individualismo, existem tantas séries policiais? Que relação têm com os telejornais, com as notícias que lá passam e a nossa reacção a elas, depois, na forma como nos conduzimos no nosso dia a dia?

Que relação existe entre a publicidade cada vez mais agressiva e a desatenção das pessoas?
Se voltarmos àquela estrada que percorremos diariamente, vemos que está cheia de painéis publicitários. Vemos? Talvez não recordemos que os vimos, mas eles estão lá e o nosso sistema nervoso retém a informação. O mesmo se passa nos anúncios no intervalo da série (ou será a série que intervala os anúncios?), por que razão sobem tanto o som no intervalo?

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