quarta-feira, 29 de abril de 2015

28 de Abril

Não consigo perceber porque teimamos em chamar liberdade a uma coisa que nos exige que persistamos numa luta contra "o inimigo".
Não consigo perceber que se celebre sempre esta ideia de vitória sobre qualquer coisa; esta ideia de que a liberdade apenas existe como vitória sobre um inimigo exterior a nós que nos atormentou até agora.

O que é um inimigo exterior?
Aceitamos todos muito depressa que a realidade é uma interpretação e não algo que está lá fora e, no entanto, continuamos a dar existência a um inimigo que, claro, vamos combater com todas as forças.
O mais interessante disto é que, pensando um pouco, isto é mais uma prisão que uma libertação: se somos nós a criar o inimigo e estamos a combatê-lo o tempo todo, quer dizer que também estamos a criar o combate e, ao associar a nossa identidade a esse combate, estamos a destruir-nos a nós mesmos, ganhando ou perdendo.

Ganhando ou perdendo?
Ganhando, até podemos pensar que conquistámos o inimigo e que agora conquistámos a paz mas... o intervalo mais curto entre dois pontos, afinal, não é entre a luz do semáforo a ficar verde e o condutor do segundo carro a apitar, mas o fim de um problema e o surgimento, como que por magia, do seguinte. E o que ganhamos, afinal? Ganhamos que a nossa atenção se vai afunilando cada vez mais, e é cada vez mais o que deixa de fora. O mundo fica mais pequeno, pois. O que fica no fim? O nosso, agora, enormíssimo problema, claro. E quem poderá provar que estamos errados ao dizer que o problema é a coisa mais importante do mundo? É mesmo. Do nosso, porque pusemos de parte tudo o resto.

Quando há duas pessoas pessoas com duas opiniões, será que o facto de uma delas impor a sua opinião à outra as deixa mais livres? Poderei dizer que assegurei a liberdade de outra pessoa quando lhe impus uma norma de pensamento ou de acção?
Porque lutamos, afinal?

Não será por poder? E se é por poder, como pode ser por liberdade? Quer dizer, liberdade, não no sentido de poder fazer o que me apeteça independentemente do outro, mas no sentido de poder coexistir livremente com o próximo, na sua acção e pensamento. A liberdade permite o outro, o poder subjuga-o.

A única noção de liberdade que o poder permite é a liberdade de o reconhecer. Não admira que se lute tanto. Se a única possibilidade de se considerar a liberdade é através da lógica do poder, então é preciso lutar tremendamente. Nunca se estará descansado, claro, porque quando se conquistar o poder, haverá outros pretendentes a lutar por tomar aquilo que agora consideramos lei.

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