segunda-feira, 15 de junho de 2015

Roundabout III

Comecei a pensar nisto quando, há uns tempos, li um livro sobre as diferentes formas de processar informação no hemisfério esquerdo e direito do cérebro. O autor, Lucien Israel, falava da fealdade do subúrbio e da influência que essa fealdade tinha na forma como pensávamos e conduzíamos a nossa vida. Da forma como, apesar de estarmos habituados a relegar questões estéticas para o museu ou para a esteticista, para a sala de espectáculos ou para a novela, aquilo ficava gravado no nosso sistema nervoso e acabava por deprimir a nossa capacidade de nos conduzirmos através da nossa experiência estética, imediata, do ambiente que nos é familiar e onde passamos a maior parte do tempo - passar é mesmo a palavra certa, em ambos os sentidos.

O facto abre uma perspectiva óptima de crescimento económico para todos os agentes culturais, pois a necessidade de algo que compense aquela fealdade torna-se premente, e isso abre uma questão. Duas, aliás:
Como programar e quais os limites dessa programação, uma vez que a capacidade de experiência deve ver-se reduzida pela constante inibição; e
Qual a reacção a partir dessa inibição? O que acontece com o sistema nervoso de uma pessoa que aqui vive e passa a maioria do tempo? O que fica depois de a capacidade de empatia com o meio ser inibida, quase como se de um acidente se tratasse?
Ficamos dentro de uma definição, literalmente. Dentro do definido, do delimitado, do seguro. Um pouco como o parque infantil vigiado - do homo ludens? Desde que não nos afastemos deste espaço, parece que está tudo bem e podemos ser felizes.
Parece tudo bem.
O problema é o tamanho deste espaço. Aliás, o problema é que este espaço só existe na nossa capacidade de o definir e de excluir tudo o resto. Limitado a uma capacidade de circunscrição lógica auto-suficiente, acaba por excluir tudo o que lhe é estranho. Mais, este espaço, não só não aceita nada fora da definição, como é forçado, naturalmente, a fechar-se sempre mais e mais à medida que a simples passagem do tempo vai rearranjando os elementos em volta e obrigando a um fechamento de perspectiva para que o que, com as mudanças no ambiente, põe em causa a definição, é posto fora por uma série de artifícios justificativos.

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